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CRISE NO MEC

Quem puxa o tapete é o ministro com sua limitação, diz ex-presidente do Inep

 

Marcus Vinicius Rodrigues rebateu declarações de

Ricardo Vélez Rodriguez para justificar demissão do órgão

 

 

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2019/03/quem-puxa-o-tapete-e-o-ministro-com-sua-limitacao-diz-ex-presidente-do-inep-cjtsh2lba01s601pr6623ce8v.html

 

29/03/2019 - 07h05min Atualizada em 28/03/2019 - 11h43min 

 FOLHAPRESS

 

 

No meio de uma disputa interna que já rendeu 15 demissões no Ministério da Educação (MEC), a saída de Marcus Vinicius Rodrigues da presidência do Instituto Nacional de Estudos Educacionais (Inep) é a primeira com o caráter de punição. Rodrigues, no entanto, reforça que a decisão de suspender a avaliação federal de alfabetização, fato que valeu seu desligamento na terça-feira (26), não veio dele, mas, sim, do próprio ministério.

 

Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele criticou a falta de projeto da pasta e o próprio ministro. Segundo ele, o ministro Ricardo Vélez Rodriguez "apresenta muitos limites no que diz respeito à gestão e também à sua formação em educação".

Na Câmara, o ministro disse nesta quarta-feira (27) que o presidente do Inep foi demitido porque "puxou o tapete" dele. Rodriguez devolve: 

— Quem está puxando o tapete é o próprio ministro diante da sua limitação em gestão.

 

 

Marcus Vinicius Rodrigues foi demitido após portaria com mudanças no sistema de avaliação das escolas Marcelo Camargo / Agência Brasil

 

 

O ex-presidente do órgão ressalta que o pedido para cancelar a avaliação de alfabetização foi dada expressamente, por escrito, pelo secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, poupado pelo ministro. O secretário é ex-aluno de Olavo de Carvalho, cujos seguidores têm comandado disputa por cargos e influência na pasta.

Além de suspender a prova de alfabetização, a portaria de segunda-feira (25) trazia as regras para a realização do Saeb, avaliação federal usada para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb). Toda a portaria foi tornada sem efeito nesta terça.

Ligado aos militares, Rodrigues é professor da FGV e acompanha as discussões da área desde o meio do ano passado.

— Com minha saída, posso explicitar os problemas que toda mídia e a sociedade brasileira estão sentindo desde janeiro — diz Rodrigues.

O general Francisco Mamede de Brito Filho deve assumir o cargo. Ele é chefe de gabinete do órgão.

 

Leia a entrevista:

 

O ministro insistiu que o senhor não o avisou, eximiu o secretário de Alfabetização, e declarou que o senhor "puxou tapete" dele. Como o senhor encara essa situação?

Rodrigues - O ministro tem o secretário de alfabetização [Carlos Nadalim], que além de ter participado de todas as reuniões, mandou um ofício. O ministro chegou a citar o ofício? Há três semanas a gente vem discutindo a portaria com várias reuniões no MEC. Essa decisão foi feita no MEC, não no Inep. O Inep avalia, mas quem decide o que eu vou mediar e avaliar é o MEC. Terça-feira passada [dia 19] a minuta da portaria ficou pronta e foi apresentada a mim. Eu senti falta da alfabetização e questionei porque o [o ex-secretário-executivo Luiz Antonio] Tozi falava muito sobre isso. A equipe questionou e ele [Nadalim] disse que era aquilo mesmo. Como sempre faço, pedi por escrito e o Nadalim fez o documento. Ele diz no documento que vai fazer a medição na alfabetização em outro momento. Dentro das obrigações do presidente do Inep, não preciso apresentar minhas portarias para o ministro. Eu não puxei o tapete de ninguém. Não tenho o perfil de puxar o tapete de ninguém. Quem está puxando o tapete é o próprio ministro diante da sua limitação em gestão.

 

O senhor entende que foi demitido injustamente?

Rodrigues - Minha demissão ocorreu e penso que foi até oportuna. Oportuna porque a minha demissão pode fazer com que os governantes abram os olhos para o que está sendo feito na educação do Brasil e para os perigos que estamos cometendo com a gestão do ministro Ricardo. O que eu estou fazendo é a busca da melhoria do país. Com minha saída, posso explicitar os problemas que toda mídia e a sociedade brasileira estão sentindo desde janeiro.

 

Como o senhor vê o ministro?

Rodrigues - O ministro Ricardo é uma pessoa do bem, com muita boa vontade, mas apresenta muitos limites no que diz respeito à gestão e também à sua formação em educação. Não é educador nem gestor. Penso que, com o presidente Bolsonaro e com este governo pelo qual trabalho desde julho [de 2018], poderíamos ter buscado um nome técnico ou um gestor para que pudéssemos de fato melhorar a educação do Brasil.

 

O MEC tem um projeto ou o senhor vê uma paralisia de ações?

Rodrigues - Se tem ações, eu não conheço. Sei que há ações dentro do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica], na EBSRH [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares], muitas dentro do Inep. De ações do ministério que conheço só tem o plano de alfabetização [minuta do plano indica preferência a um método de alfabetização, o que foi criticado].

O professor Ricardo é muito honesto. A Lava Jato da Educação [um protocolo interministerial de intenções lançado pelo governo] é muito importante, temos que combater a corrupção. Sou a favor. Mas o maior desafio é criar métodos de gestão para evitar que novas ações de corrupção venham a acontecer. Se você é um gestor, não dirige olhando para o retrovisor. Temos que olhar para frente. Porque se continuar dirigindo pelo retrovisor não vamos atingir lugar nenhum.

 

Há vários grupos dentro do MEC, de militares, ao qual o senhor se associa, técnicos e de seguidores de Olavo de Carvalho. Isso tem atrapalhado?

Rodrigues - Não estamos falando em conhecimento. Sejam os alunos de Olavo, do Ricardo, ou de quem quer seja, poderíamos ter trabalhado juntos se tivéssemos uma direção. A partir do momento que não temos planejamento, plano diretor, ações definidas e focadas, qualquer grupo que esteja inserido não vai apresentar resultados.

O problema não são os grupos.

Se você verificar em algumas escolas do país com sucesso, verá que muitas delas sãos comandadas por gestores. Porque o gestor tem que ter uma visão macro. Isso falta ao professor Ricardo, apesar de sua bondade, de ser uma pessoa de bem.

 

Qual perfil das pessoas que o ministro apresentou para sua equipe?

Rodrigues - Toda a direção do Inep que o ministro apresentou eu barrei. Não quero falar em nomes. Mas todos tinham bom currículo, mas postura ideológica acentuada. E postura ideológica acentuada não é compatível com gestão. Foi o professor Marcus Vinicius que impôs a diretoria [o governo chegou a nomear Murilo Resende, seguidor de Olavo de Carvalho, para uma diretoria do Inep mas voltou atrás após má repercussão].

 

Com a portaria do Saeb suspensa neste momento, o senhor acredita que há risco para a realização da avaliação das escolas neste ano?

Rodrigues - Ate sexta-feira passada [22] tudo estava sob controle. Mas penso que ações não planejadas e a falta de comunicação que causou esse problema tendem a atrapalhar. Não posso dizer [se haverá impacto] porque estou fora. No entanto, existe um ponto mais grave. O que aconteceu foi muito ruim para o clima do Inep. Fiz reuniões com todos os funcionários, criei um clima bom e as notícias que tenho é que muitos funcionários estão chateados e preocupados. Isso pode trazer no momento seguinte resultados ruins.

 

Na comissão de Educação, parlamentares defenderam a saída do ministro. Há clima para ele continuar?

Rodrigues - Quem pode responder é o presidente Bolsonaro.

 

O senhor pretende continuar no governo?

Rodrigues - Eu trabalhei por esse governo desde julho passado, participando das reuniões com vários profissionais inclusive militares. Não descarto a participação no governo em um momento futuro, mas agora não. Eu acredito no governo. Vou até contribuir mais do que se estivesse dentro do Inep.

 

 

  

Ministro da Educação é do bem, mas é limitado, diz ex-presidente do Inep

Vélez havia dito que Rodrigues saiu porque 'puxou tapete' dele; diretor do Inep pede demissão

 

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/03/quem-puxa-o-tapete-e-oministro-com-sua-limitacao-diz-ex-presidente-do-inep.shtml

 

 

27.mar.2019 às 19h31

Atualizado: 27.mar.2019 às 21h03

 

Paulo Saldaña

 

BRASÍLIA

 

No meio de uma disputa interna que já rendeu 16 demissões no MEC (Ministério da Educação), a saída de Marcus Vinicius Rodrigues da presidência do Inep (Instituto Nacional de Estudos Educacionais) é a primeira com o caráter de punição. Rodrigues, porém, diz que a decisão de suspender a avaliação de alfabetização, fato que valeu seu desligamento na terça-feira (26), não veio dele, mas do próprio ministério.

 

Ele critica a falta de projeto da pasta e o próprio ministro. Segundo ele, Vélez é limitado em gestão e educação. Na Câmara, Vélez disse nesta quarta (27) que Rodrigues foi demitido porque "puxou o tapete" dele. Segundo ele, a suspensão da prova teria sido feita sem seu consentimento.

 

Também nesta quarta, o diretor de Avaliação da Educação Básica do instituto, Paulo Cesar Teixeira, responsável pelo Saeb e Enem, pediu demissão em apoio a Rodrigues. O cancelamento da prova de alfabetização consta em portaria publicada na segunda-feira (25) com as regras para o Saeb, avaliação federal usada para o cálculo do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação). Toda a portaria foi tornada sem efeito na terça. Ligado aos militares, Rodrigues é professor da FGV. O general Francisco Mamede de Brito Filho deve assumir o cargo.

 

Entrevista

 

O ministro insistiu que o senhor não o avisou, eximiu o secretário de Alfabetização, e declarou que o senhor "puxou tapete" dele. Como o senhor encara essa situação?

O ministro tem o secretário de alfabetização [Carlos Nadalim], que além de ter participado de todas as reuniões, mandou um ofício.

 

 

O ministro chegou a citar o ofício? Há três semanas a gente vem discutindo a portaria com várias reuniões no MEC. Essa decisão foi feita no MEC, não no Inep. O Inep avalia, mas quem decide o que eu vou mediar e avaliar é o MEC. Terça-feira passada [dia 19] a minuta da portaria ficou pronta e foi apresentada a mim. Eu senti falta da alfabetização e questionei porque o [o ex-secretário-executivo Luiz Antonio] Tozi falava muito sobre isso. A equipe questionou e ele [Nadalim] disse que era aquilo mesmo. Como sempre faço, pedi por escrito e o Nadalim fez o documento. Ele diz no documento que vai fazer a medição na alfabetização em outro momento. Dentro das obrigações do presidente do Inep, não preciso apresentar minhas portarias para o ministro. Eu não puxei o tapete de ninguém. Não tenho o perfil de puxar o tapete de ninguém. Quem está puxando o tapete é o próprio ministro diante da sua limitação em gestão.

 

 

 

O senhor entende que foi demitido injustamente?

Minha demissão ocorreu e penso que foi até oportuna. Oportuna porque a minha demissão pode fazer com que os governantes abram os olhos para o que está sendo feito na educação do Brasil e para os perigos que estamos cometendo com a gestão do ministro Ricardo. O que eu estou fazendo é a busca da melhoria do país. Com minha saída, posso explicitar os problemas que toda mídia e a sociedade brasileira estão sentindo desde janeiro.

 

Como o senhor vê o ministro?

O ministro Ricardo é uma pessoa do bem, com muita boa vontade, mas apresenta muitos limites no que diz respeito à gestão e também à sua formação em educação. Não é educador nem gestor. Penso que, com o presidente Bolsonaro e com este governo pelo qual trabalho desde julho [de 2018], poderíamos ter buscado um nome técnico ou um gestor para que pudéssemos de fato melhorar a educação do Brasil.

 

O MEC tem um projeto ou o senhor vê uma paralisia de ações?

Se tem ações, eu não conheço. Sei que há ações dentro do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica], na EBSRH [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares], muitas dentro do Inep. De ações do ministério que conheço só tem o plano de alfabetização [minuta do plano indica preferência a um método de alfabetização, o que foi criticado].

O professor Ricardo é muito honesto. A Lava Jato da Educação [um protocolo interministerial de intenções lançado pelo governo] é muito importante, temos que combater a corrupção. Sou a favor. Mas o maior desafio é criar

métodos de gestão para evitar que novas ações de corrupção venham a acontecer. Se você é um gestor, não dirige olhando para o retrovisor. Temos que olhar para frente. Porque se continuar dirigindo pelo retrovisor não vamos atingir lugar nenhum.

 

Há vários grupos dentro do MEC, de militares, ao qual o senhor se associa, técnicos e de seguidores de Olavo de Carvalho. Isso tem atrapalhado?

Não estamos falando em conhecimento. Sejam os alunos de Olavo, do Ricardo, ou de quem quer seja, poderíamos ter trabalhado juntos se tivéssemos uma direção. A partir do momento que não temos planejamento, plano diretor, ações definidas e focadas, qualquer grupo que esteja inserido não vai apresentar resultados.

O problema não são os grupos.

Se você verificar em algumas escolas do país com sucesso, verá que muitas delas sãos comandadas por gestores. Porque o gestor tem que ter uma visão macro. Isso falta ao professor Ricardo, apesar de sua bondade, de ser uma pessoa de bem.

 

Qual perfil das pessoas que o ministro apresentou para sua equipe?

Toda a direção do Inep que o ministro apresentou eu barrei. Não quero falar em nomes. Mas todos tinham bom currículo, mas postura ideológica acentuada. E postura ideológica acentuada não é compatível com gestão. Foi o professor Marcus Vinicius que impôs a diretoria [o governo chegou nomear Murilo Resende, seguidor de Olavo de Carvalho, para uma diretoria do Inep mas voltou atrás após má repercussão].

 

Com a portaria do Saeb suspensa neste momento, o senhor acredita que há risco para a realização da avaliação das escolas neste ano?

Ate sexta-feira passada [22] tudo estava sob controle. Mas penso que ações não planejadas e a falta de comunicação que causou esse problema tendem a atrapalhar. Não posso dizer [se haverá impacto] porque estou fora. No entanto, existe um ponto mais grave. O que aconteceu foi muito ruim para o clima do Inep. Fiz reuniões com todos os funcionários, criei um clima bom e as notícias que tenho é que muitos funcionários estão chateados e preocupados. Isso pode trazer no momento seguinte resultados ruins.

 

Na comissão de Educação, parlamentares defenderam a saída do

ministro. Há clima para ele continuar?

Quem pode responder é o presidente Bolsonaro.

 

O senhor pretende continuar no governo?

Eu trabalhei por esse governo desde julho passado, participando das reuniões com vários profissionais inclusive militares. Não descarto a participação no governo em um momento futuro, mas agora não. Eu acredito no governo. Vou até contribuir mais do que se estivesse dentro do Inep.

 

 

O ministro é gerencialmente incompetente',

diz ex-dirigente do Inep sobre Vélez Rodríguez

Exonerado nesta terça-feira, Marcus Vinicius Rodrigues afirmou que titular da Educação não tem 'poder de gestão' nem 'controle emocional' para conduzir a área

Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/o-ministroe-gerencialmente-incompetente-diz-ex-dirigente-do-inep-sobre-velez-rodriguez-23553539

 

Renata Mariz                                                                                         
27/03/2019 - 01:17 / Atualizado em 11/04/2019 - 15:24

BRASÍLIA - Demitido pelo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, da presidência do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Texeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues afirmou ao GLOBO que o ex-chefe é "gerencialmente incompetente" e "não tem controle emocional" para comandar a educação brasileira. Ele disse que a portaria suspendendo a avaliação da alfabetização no país este ano, apontada como motivo da demissão, foi apenas um "pretexto" de Vélez para retirá-lo do cargo.





Segundo Marcus Vinicius, a suspensão dos testes para crianças de 7 anos,  que estão aprendendo a ler e escrever, foi um pedido do secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim, que é muito próximo a Vélez, e que dificilmente o ministro não teria sido informado da medida pelo auxiliar. Vélez alegou internamente que foi surpreendido, após repercussão negativa da portaria publicada na segunda-feira, que ele anulou no dia seguinte.

Apesar de classificar Vélez como uma "pessoa do bem", Marcus Vinicius desqualificou a formação acadêmica do ministro, dizendo que ele "não teve acesso a boas faculdades" e disse que Vélez é "refém" das próprias limitações.

A demissão de Marcus Vinicius abre mais uma crise dentro do MEC, que desde o início do mês está conflagrado por uma disputa de espaço entre diferentes grupos: a ala técnica, os militares e os seguidores do ideólogo de direita Olavo de Carvalho, que compõem o núcleo ideológico da pasta. Marcus Vinicius é doutor em Engenharia de Produção e foi professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).


 

Entrevista ao O Globo

 

Por que o senhor foi demitido?

A minha demissão é um processo de crise que já vem desde o início, a partir do momento em que eu não aceitei as indicações do ministro com caráter ideológico para ocupar diretorias (do Inep). Acho que foi exatamente neste momento que o processo de distanciamento teve início. O ministro me fez várias indicações de profissionais que tinham uma postura ideológica não adequada para a gestão. E eu entendi que isso não seria adequado para a Educação do Brasil. 

Uma dessas indicações foi a de Murilo Resende, ligado a Olavo de Carvalho, que iria assumir a coordenação do Enem?
Sim. O Murilo, apesar de ter uma boa formação, não tinha perfil para um cargo tão relevante.

Mas o governo aponta que sua demissão ocorreu porque o senhor publicou a portaria que suspendeu a avaliação da alfabetização prevista para este ano e que foi revogada pelo próprio ministro no dia seguinte.
A portaria foi apenas um pretexto, mesmo porque o Inep não cometeu nenhum erro. A portaria começou a ser feita há aproximadamente três semanas por uma equipe do Inep com uma equipe do MEC, ligada à Secretaria de Alfabetização. Eles chegaram a uma minuta da portaria. Essa minuta foi analisada na terça-feria por mim. Eu senti falta de referência da medição da alfabetização. Os diretores do Inep que estavam na reunião disseram que essa era a postura da Secretaria de Alfabetização. Na dúvida, eu pedi ao senhor (Carlos) Nadalim, que é o titular (da Secretaria de Alfabetização do MEC), que me mandasse isso formalmente. E ele me mandou um ofício muito claro dizendo que a Secretaria de Alfabetização estava pedindo ao Inep para não inserir a medição da alfabetização.

O ministro alegou que não sabia da suspensão dessa avaliação. Ele foi surpreendido com a medida?
Eu não posso dizer que ele não sabia. Mas o secretário de Alfabetização é provavelmente o colaborador mais próximo do ministro hoje. Os dois moravam na mesma cidade, são grandes amigos. Acho que dificilmente o Nadalim não tenha informado ao ministro sobre uma coisa tão importante. Mesmo porque o Nadalim não foi punido. Se o Nadalim tivesse traído o ministro, provavelmente seria exonerado. 

O senhor acha então que a demissão foi um ato injusto para dar uma satisfação em meio à polêmica?
A minha demissão não foi uma injustiça. Foi um ato de incompetência gerencial de um ministro que não tem poder de gestão, não tem controle emocional para dirigir a Educação do Brasil. Pesou o fato de eu ser ligado à ala militar; de ser amigo do grande profissional que é o (Antonio Flávio) Testa (sociólogo que trabalhou desde a campanha e foi dispensado por Veléz durante a transição após um desentendimento). E pesou o fato de termos um modelo de gestão aplicada no Inep muito destoante do que vem sendo aplicado no MEC.  

O ministro tem competência para ocupar o cargo atual?
É uma pessoa do bem, tem boa vontade. Mas o ministro Ricardo é gerencialmente incompetente. Ele não tem conhecimento de gestão, além de não ser um educador. Isso faz com que ele não consiga gerenciar o dia a dia em um governo tão importante, que está tentando recuperar o Brasil. 

Quais problemas essa falta de gestão provocará?
Os problemas já começam agora, com as entregas que deveriam ser realizadas. Provavelmente o MEC vai entregar muito pouco. A educação é um das bandeiras do governo Bolsonaro, pelo qual trabalhei desde julho e vou continuar trabalhando. É uma alternativa para o Brasil. Infelizmente, alguns cargos vitais, como na Educação, estão sendo ocupados por pessoas honestas, de boa vontade, mas sem habilidade gerencial e sem uma inteligência emocional adequada. 

O ministro está refém do grupo ideológico?
O ministro está refém dele mesmo, das  limitações dele. Todos nós temos limitações. O ministro não teve acesso a boas faculdades, não teve acesso a uma formação densa. E isso faz com que não tenha uma visão global.

A produção acadêmica do ministro na plataforma Lattes teria sido inflada, segundo informações da imprensa. O senhor concorda?
Nunca me considerei um educador ou intelectual. Meu doutorado é na Coppe (instituto de pós-graduação e pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), fui professor durante 20 anos na Fundação Getulio Vargas. O ministro tem o doutorado dele na Gama Filho, essa instituição já fechou. No currículo dele, a maior parte das aulas (dadas) foi na Universidade (Federal) de Juiz de Fora, que é uma grande universidade, sim, e em uma instituição de pequeno porte em Maringá. Essa falta de experiência do ministro, sem uma formação densa, com publicações limitadas, sem conhecimento de gestão, prejudica a visão que ele tem do Brasil e da educação brasileira. Não vejo como ter uma gestão de sucesso. 

O senhor disse que vai continuar colaborando com o governo. Vai ocupar algum outro cargo?
Quero tirar um mês de férias e depois colocar meus negócios em dia. Voltar para a minha empresa. Pretendo continuar apoiando o governo e, caso seja adequado — não agora, mas no futuro —, voltar a ajudar na própria máquina pública.

 

   

 

 

 

 


MEC fica à deriva após 6 recuos e 15 exonerações; general deve ir para o Inep

Nesta terça, ministro Ricardo Vélez Rodríguez reviu decisão anunciada no dia anterior pela pasta – sem que ele soubesse –, de não avaliar crianças em fase de alfabetização no País. Segundo especialistas em gestão, episódio expõe a falta de articulação

 

Fonte: https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,mec-fica-a-deriva-apos-6-recuos-e-15-exoneracoes-general-deve-ir-para-o-inep,70002769478


Renata Cafardo e Lígia Formenti, O Estado de S.Paulo


27 de março de 2019 | 03h00


BRASÍLIA - Depois de 15 exonerações, medidas polêmicas e seis recuos, o Ministério da Educação (MEC) está à deriva. Nesta terça, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez reviu decisão anunciada no dia anterior pela pasta - sem que ele soubesse -, de não avaliar crianças em fase de alfabetização no País. Segundo especialistas em gestão pública de educação, o episódio mostrou mais uma vez o amadorismo e a falta de articulação do MEC no governo de Jair Bolsonaro.

 

 

 

 Vélez tem tido até dificuldade de encontrar quadros para repor os espaços vagos. Nesta terça, o ex-aluno do ministro Alexandro Ferreira de Souza passou a acumular duas secretarias. Continua com a que ele já comandava, da Educação Profissional e Tecnológica, e será o secretário da Educação Básica, pois a titular anterior, Tania Almeida, pediu demissão porque também não foi avisada da mudança na prova de alfabetização.

 

 



Nos últimas semanas, Vélez chegou a anunciar dois nomes de secretários executivos e foi desautorizado pelo Palácio do Planalto. O cargo permanece vago há 15 dias. “Não temos mais interlocutor no MEC, não tem com quem se possa conversar sobre os anseios dos secretários, das escolas do País”, diz a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) Cecília Motta, que é secretária de Mato Grosso do Sul. “Precisamos de uma política de Estado, não de governo.”


Militar. O general Francisco Mamede de Brito Filho, que tem experiência na área de Defesa e nunca trabalhou com educação, deve assumir o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), que responde pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Brito Filho foi chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Nordeste.


“Faz três meses que não temos uma clara orientação sobre qual a política nacional”, afirma a ex-secretária executiva do MEC no governo de Michel Temer e de Fernando Henrique Cardoso, Maria Helena Guimarães de Castro. Ela diz que livros e merenda, por exemplo, que são ações de alocação automática de recursos, estão chegando às escolas. Mas não se sabe o que vai acontecer com verbas que seriam destinadas à implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ou para a reforma do ensino médio, por exemplo.


Há semanas, o MEC enfrenta uma disputa entre os grupos dos seguidores do guru dos bolsonaristas, Olavo de Carvalho, e os ligados à área técnica e aos militares. A demissão do presidente do Inep, nesta terça, deixou claro o clima que vive a pasta.


À noite, após ser confirmada a exoneração, Marcus Vinicius Rodrigues fez duras críticas ao ministro Ricardo Vélez Rodríguez. “O Brasil precisa de um ministro da Educação que tenha responsabilidade de gestão, competência e experiência”, disse ao Estado.


Rodrigues já vinha travando uma disputa interna com Vélez há semanas. Ele conta que discordou da comissão que vai analisar as questões do Enem e tentou barrar integrantes de perfil ideológico e ligados ao filósofo Olavo de Carvalho.


Nesta semana, segundo ele, foi convencido pelo secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, a cancelar a avaliação de alfabetização no País. “Não é um assunto que conheço. Pedi um ofício justificando o pedido.” No documento, ao qual o Estado teve acesso, o secretário alega que “a referida avaliação, no atual formato, não corresponde às necessidades da política que será implementada”.


Vélez não sabia da portaria sobre a avaliação - assinada pelo presidente do Inep - e ficou furioso com a repercussão negativa do caso. Na segunda-feira à tarde, chamou Rodrigues ao gabinete e disse que ele deveria ter pedido autorização ao MEC para assinar o documento. Rodrigues então retrucou, dizendo que o Inep é uma autarquia e tem independência. Os dois discutiram e Vélez pediu a demissão do presidente do Inep.


Rodrigues chegou ao governo por indicação do general Alessio Ribeiro Souto, que atuou na campanha de Bolsonaro. O professor da Fundação Getúlio Vargas também conta com o apoio do general Augusto Heleno, ministro do gabinete de Segurança Institucional.


Brito Filho, que deve assumir o posto, é muito próximo de Rodrigues. Ele serviu no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, entre 2008 e 2009, durante o governo Lula, e comandou o Batalhão Brasileiro no Haiti, em 2012.


Duas das exonerações ainda não foram publicadas no Diário Oficial. Alguns dos que saíram foram remanejados para áreas adjacentes do MEC. O Estado apurou ainda que a pasta deverá enfrentar nova onda de mudanças. A informação é de que pelo menos mais 20 pessoas sejam demitidas.


“Tudo isso cria uma situação de muita instabilidade e insegurança na gestão educacional, todo mundo fica na expectativa de qual o próximo fato que vai acontecer”, afirma a ex-secretária de Educação do Rio Grande do Sul Mariza Abreu.


“É uma pena o que estamos vendo, para as gerações que estão na escola e para as que vão entrar.”

 

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